sexta-feira, 13 de julho de 2007




Prometeus
Franz Kafka

De Prometeus nos falam quatro lendas.

Segundo a primeira, o amarraram ao Cáucaso por ter dado o conhecimento dos segredos divinos aos homens, fazendo com que os deuses enviassem numerosas águias para devorar-lhe o seu fígado, em continua renovacão.

De acordo com a segunda, Prometeus abateu-se por causa da dor que lhe produzíam os bicos , e foi embutido à rocha até chegar a fundir-se com ela.

Conforme a terceira, sua traição passou ao esquecimento com o correr dos séculos. Os deuses o esqueceram, as águias o esqueceram, ele mesmo se esqueceu de si.

Concernente à quarta, todos se aborreceram dessa história absurda. Se aborreceram os deuses, se aborreceram as águias e a ferida se fechou de tédio.

Somente permaneceu o inexplicável penhasco.
A lenda pretende decifrar o indecifrável.
Como esta surgiu de uma verdade, tem que remontar-se ao indecifrável.


Trecho e tradução do livro: La Metamorfósis , ©1980 Editores Mexicanos

2 comentários:

e.m. disse...

Kafka decifra um pouco de cada um de nós.. evidencia nossas Metamorfósis que "Como esta surgiu de uma verdade, tem que remontar-se ao indecifrável". E sempre estamos a questionar cada sentimento. Fez-me lembrar do Milan Kundera qdo este diz: "Em trabalhos práticos de física, qualquer aluno pode fazer experimentos para verificar a exatidão de uma hipótese científica. Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento".
Então qual seria o sentimento do Prometeus?

abraço

Fernando Kosta disse...

A verdade ao insurgir do indecifrável recai na seguinte questão: o próprio estado do Ser não pode abandonar a existência, porque existir é estar condenado a recair sempre na existência. Dessa forma, não importa a Kafka se os sentimentos são verdadeiros ou não, mas sim se eles valem a pena ser sentidos. O sentimento de Prometeus não é pelos humanos,não é por compaixão, mas sim pelas artes, demasiadamente, humanas. Este foi o seu acerto... Embora soubesse (pois ele poderia ver o futuro) que no final das contas, os homens o esqueceriam, restando como único e fiel amigo o precípicio.