sábado, 7 de julho de 2007

















A ESSÊNCIA DO VÔO

Se eu fosse um anjo
me conteria apenas em voar...
Voar para o mais longe possível
Dos infímos tormentos humanos
Com certeza, seria condenado
Pelo sagrado e o profano
Diante do meu desprezo
Mas nesse mero teatro
A essência e o pecado
São meros coadjuvantes
Sob o urfar de minhas asas
Para o incerto Horizonte.

4 comentários:

Biblioteca Central disse...

"Mero teatro" é coisa não compreendo. É justamente por "teatro" ser a gênese da vida e da ação - longe, há muito, da idéia representação - que "essência" e "pecado" são meros coadjuvantes.

"É preciso acreditar num sentido da vida renovado pelo teatro, onde o homem impavidamente torna-se o senhor daquilo que ainda não é, e o faz nascer. E tudo o que não nasceu pode vir a nascer, contanto que não nos contentemos em permanecer simples órgãos de registro.

Do mesmo modo, quando pronunciamos a palavra vida, deve-se entender que não se trata da vida reconhecida pelo exterior dos fatos, mas dessa espécie de centro frágil e turbulento que as formas não alcançam. E, se é que ainda existe algo de infernal e de verdadeiramente maldito nestes tempos, é deter-se artisticamente em formas, em vez de ser como supliciados que são queimados e fazem sinais sobre suas fogueiras."

- Antonin Artaud, "O teatro e seu duplo" -

Fernando Kosta disse...

Fantástica coincidência! Não sabia que Artaud tinha escrito algo semelhante. Na verdade nunca o li, mas achei-o bastante interessante. Mais interessante é colocar o teatro no mesmo patamar destinado à música, ou seja, o teatro como a mais bela expressão da vontade em si,já que aí deposita-se o "centro frágil e turbulento que as formas não alcançam."
Muito bom.

Fernando Kosta disse...

Só uma coisa: o "mero teatro" que emprego difere de Artaud, na medida em que, aplico seu sentido não a sua concepção "vitalista", mas sim, ao sentido lúdico da vida.

Biblioteca Central disse...

Sim, eu percebi a diferença, claro.

Sei que é meio nada a ver essa interferência, mas se tivesse um adjetivo positivo ao invés de "mero", na minha opinião, seu poema ficaria muito mais rico. Isso porque o teatro não se aplicaria como "sentido lúdico da vida", mas seria idêntico à própria vida - e a perspectiva vitalista submeteria as idéias de "essência" e "pecado".

Mas tá do caralho, com ou sem "mero", rs.