sábado, 7 de julho de 2007




O ALIENÍGENA


Acordo...
E, embora o Sol tenha se tornado uma opção, percebo que é um belo dia para se usar óculos. Levanto a cabeça e percebo que estou desconectado de meu travesseiro, que agora está no chão. Pela escotilha, lá fora, somente zumbidos ditam a nota do dia, com suas paisagens constituídas por camadas de imagens em movimento, onde signos por toda a parte, sufocam os espaços ainda restantes. Enquanto isso, no alto, estranhos pássaros são hipnotizados e seguem
por ondas de rádio. Eu diria que se antes o céu abrigava deuses, agora é apenas um espaço a ser percorrido por satélites. O espetáculo lá fora contrastava com a decadência de minha nave. Esta, embora fosse composta por paredes espessas exalava tristeza em seu ar úmido e criogênico. Minha cabeça dói, talvez por causa da gravidade alcóolica da noite anterior. O cinzeiro ao lado da câmara está abarrotado de tubos de oxigênio. "Pelo menos sobrou um" - penso. O ar é denso e pesa. Logo percebo que estou nu e vejo meus trajes espaciais jogados sobre o piso. Meu serial que acabara de expirar encontra-se ao lado do painel central de controle, no qual costumo passar a maior parte do tempo, em minhas insoniosas madrugadas, comunicando-me com outras espécies nem sempre interessantes deste planeta. "Droga! Serial expirado e não poderia renová-lo" - pensei. Sinto que algo está errado. O comunicador toca.... Apenas fito o aparelho. O ar está mais pesado... O comunicador continua tocando... Abruptamente sou acometido por náuseas, não consigo respirar direito e semelhante a um rato corro para a luz da escotilha! O ar rasga os meus pulmões desacostumados o que me faz tossir sangue brutalmente. "Acho que vou morrer" - penso. O comunicador continua tocando e ouço passos no corredor... pausa... chutes na porta! Preciso desligar os aparelhos! "Ah, dane-se, não há mais tempo"! Minha respiração intensifica-se e a dor passa a ser a minha única companheira... Estou sem ar! Os chutes se intensificam... De repente, percebo o último lacre de proteção do compartimento se partindo... Mas não posso ver quem está entrando na cápsula, pois neste exato momento, as cores começam a se mover... incontáveis cores se movem em velocidade proporcional ao espaço negro que se aproxima, espaço este que agora, irei conhecer pessoalmente, e cujo nome é identificado pelos humanos como "asfalto".

3 comentários:

Mirelle disse...

Muito interessante este texto, lembra-me muito "Brave new world" de Audous Huxley, a questão da constante vigilância.

Só uma ressalva, preferia quando teminava em "asfalto". O final era surpreendente e chocante.

Fernando Kosta disse...

Realmente. Retirei-o e ficou melhor mesmo. Brigadão.

Mirelle disse...

Por nada, precisando é só falar!

Esse final deixa um ar mais dramático, um ato desesperado talvez de tentativa de liberdade (ou apenas uma tentativa de saída, como dizia Kafka).